quarta-feira, 12 de agosto de 2009

entrevista com Dona Remi

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Confira a entrevista com Dona Remi

Luiz Ribeiro - Estado de Minas




A senhora é o exemplo de quem foi à luta e venceu na vida. Como se sente depois desse sucesso?


Quando a pessoa começa como eu, sem cultura, sem dinheiro, pouca escolaridade, eu me sinto muito bem, pois me sinto realizada. Algumas coisas ficaram para trás; mas tenho o suficiente para me considerar realizada.

Como conheceu o Michael Jackson? E durante quanto tempo trabalhou com ele?

Conheci-o por meio do produtor de música Quincy Jones. Eu estava cozinhando um jantar na casa de Quincy e o Michael Jackson foi um dos convidados. Nos demos muito bem pois nesse tempo o Michael, como outros membros de sua família, eram testemunhas de Jeová como eu. Trabalhei durante duas das turnês dele, Triumph, em 1981, e Victory, em 1984. Entre e depois dessas turnês ele me contratou para trabalhar na casa dele várias vezes durante seis anos ou mais.

Como era Michael Jackson na intimidade?

Michael Jackson era uma pessoa divina para trabalhar junto. Cavalheiro, compreensível, paciente, divertido, tímido, como diz o americano very shy (muito tímido), e complicadíssimo para comer. Mas comia minha comida sem problema nenhum, ele gostava. Ele era muito humano.

O que Jackson achava do Brasil?

Nós não falamos muito sobre o Brasil, não tínhamos a oportunidade de falar disso. Das poucas vezes que tivemos, ele manifestou o desejo de conhecer o Brasil.

Que mensagem a senhora envia aos jovens que estão iniciando suas carreiras?

Obedeçam a seus pais, aproveitem o máximo na escola, sejam corteses, não usem drogas em nenhuma circunstância. Tenha paciência e não abandone os estudos porque a base de tudo é uma boa cultura. Amar a Jeová Deus acima da todas as coisas e adquirir conhecimento da vida. Não se esqueçam que os sucessos na vida dependem de cada um de vocês.

Ela veio de família humilde. Ainda adolescente, trabalhou como babá. Conviveu com vários políticos brasileiros como Juscelino Kubitscheck. Foi para os Estados Unidos, onde, na condição de cozinheira de mão cheia, conheceu e trabalhou com várias estrelas da música e do cinema. Essa história, que parece um conto de fadas, é a vida de Raymunda Pereira de Brito, ou simplesmente Dona Remy, de 84 anos, que nos últimos dias ganhou os holofotes por ter sido cozinheira de Michael Jackson. A mineira de Curvelo, mais do que uma simples cozinheira, foi uma espécie de babá do Rei do Pop e assim foi uma das poucas pessoas no mundo a conhecer a intimidade do astro, que morreu no último dia 25.

“Michael Jackson era uma pessoa divina para trabalhar junto. Cavalheiro, compreensível, paciente, divertido, tímido e muito humano”, descreveu Raymunda Pereira Vila Real (nome que adota atualmente), em entrevista ao Estado de Minas, de sua casa em Los Angeles. Ela conta que o Rei do Pop era “complicadíssimo” para comer. “Mas comia minha comida sem problema nenhum”, ressalta.

Ainda este ano, será lançado, no Brasil e nos EUA, um livro sobre a cozinheira, intitulado Do Brasil para os Estados Unidos pelas colheres – a vida de Dona Remy, escrito em parceria com o empresário e escritor Javier Lizano (natural da Costa Rica e que também tem cidadania americana), que ela conheceu em 1973, em um salão das Testemunhas de Jeová. O livro vai detalhar as experiências de vida dessa mineira que é um verdadeiro exemplo de superação.

Aos 15 anos, ela se mudou para Belo Horizonte, onde passou a trabalhar como babá. Na época, era chamada carinhosamente de Mundica. “Ela era uma pessoa muito carinhosa e dedicada. Tinha muito afeto com as crianças”, diz a aposentada Maria Auxiliadora Diniz Barata, de 89 anos, ex-patroa de Remy. Mais tarde, as duas se tornaram amigas.

Em Curvelo – cidade de 75 mil habitantes, a 163 quilômetros de Belo Horizonte – a mulher que virou cozinheira do Rei do Pop tem duas primas, que evitam contato com a imprensa. Ela sempre tem informações da cidade natal por intermédio do jornalista e escritor Newton Vieira. Ela conta que conheceu o conterrâneo durante uma de suas viagens à cidade, em julho de 1993. Hoje, mostrando que está antenada com a modernidade, Dona Remy faz parte de uma página de relacionamentos na internet e sempre troca informações com o escritor curvelano. “A Remy é uma pessoa de grande força espiritual, lutadora, que alcançou o seus principais objetivos na vida e nunca perdeu a simplicidade”, elogia Newton. Ele conta que a amiga teve uma infância difícil, pois não chegou a conhecer o pai.

“Conheci a Mundica ainda quando eu era adolescente. Ela trabalhava com minha família em Belo Horizonte. Acho que ela fez apenas o curso primário e é uma pessoa vitoriosa. Valorizo muito as pessoas que sabem lutar e vencem na vida”, diz a dona de casa Terezinha Diniz Lopes, de 81 anos, também moradora de Curvelo.

Depois de morar nove anos em Belo Horizonte, na década de 50, a então babá foi para São Paulo, onde começou a trabalhar como doméstica e cozinheira. Pouco depois, conheceu Juscelino Kubstcheck, que gostou do seu trabalho. Também teve a oportunidade de conhecer outros políticos como Jânio Quadros, Carlos Lacerda e Sette Câmara Filho. Sobre JK, comenta: “A lembrança que eu tenho de Juscelino foi da candidatura dele e depois da presidência dele. Eu me lembro dos problemas que ele tinha em seu governo, pelas promessas que ele fez durante a campanha presidencial. Eu vi que ele estava com problemas em relação ao cumprimento de suas promessas ao país”.

Na década de 1960, a curvelana conheceu o músico Sérgio Mendes, que a levou para trabalhar para a família dele nos Estados Unidos. Teve que encarar muitas dificuldades. “Sendo mineira, brasileira, chego aos Estados Unidos sem saber nem uma palavra de inglês. Mas eu inventei e criei meu própio inglês naquela época”, relata Dona Remy.

Ainda por intermédio de Sérgio Mendes, conheceu várias celebridades, para as quais passou a trabalhar no preparo de banquetes. Dentre outros astros, trabalhou e conviveu com Dick Martin, Sidney Poitier, Quincy Jones, Elizabeth Taylor, Paul McCartney, , Michael Jackson, Dick Van Dyke, Yul Brynner, Kirk Douglas, Bill Bixby e Harrison Ford. Em relação ao último – atualmente, o artista mais bem pago de Hollywood (cerca de US$ 64 milhões por ano) – faz uma revelação: antes se tornar conhecido do cinema, Ford completava a renda como carpinteiro. Um dia foi trabalhar na casa de Sérgio Mendes e gostou da comida de Remy, ganhando admiração especial pelo cafezinho preparado por ela.

A brasileira tornou-se conhecida entre as estrelas de Hollywood já com o nome de Remy. Mas como conheceu o Michael Jackson? Ela revela que o primeiro contato aconteceu quando estava cozinhando num jantar na casa do produtor musical Quincy Jones, que tinha o Rei do Pop como um dos convidados. A cozinheira conta que trabalhou com Michael Jackson em duas turnês – Triumph (1981) e Victory (1984). Depois, foi contratada para trabalhar na casa dele. Foram cerca de duas décadas de convivência.

Há mais de 40 anos nos Estados Unidos, Dona Remy não esquece as origens. “O povo do Brasil é o melhor povo que conheci na minha vida. Em particular, a gente de Minas Gerais, os mineiros têm características que separam eles de outros; como sua honestidade.” Ela também conserva a simplicidade. Perguntada sobre o segredo para vencer na vida, resumiu: “É preciso amar o próximo como a si mesmo”.

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