domingo, 31 de outubro de 2010

Especialistas de SP vetam remédio distribuído pelo Ministério da Saúde


Especialistas de SP vetam remédio
distribuído pelo Ministério da Saúde

Droga usada para doença de Gaucher ainda está em estudo e não é aprovada

Parecer de especialistas que assessoram a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo concluído em setembro vetou o uso do medicamento taliglucerase nos pacientes com a doença de Gaucher. O motivo é a da falta de informações a respeito dos efeitos do remédio. Apenas quem passa por estudos clínicos continuam tomando a medicação.

A droga, que ainda está em estudo e não é aprovada no país, foi distribuída nas últimas semanas emergencialmente pelo Ministério da Saúde aos Estados mediante uma autorização especial da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O taliglucerase está substituindo um outro remédio que vinha sendo utilizado e que registrou desabastecimento mundial.

A doença de Gaucher é uma condição rara, causada pela incapacidade do organismo em metabolizar gordura, o que gera anemia e problemas ósseos. Atualmente 610 pessoas estão em tratamento no país, 172 delas em São Paulo. Alguns estão evitando tomar a medicação.

Apesar de a secretaria e o ministério não terem se manifestado oficialmente sobre os questionamentos até a conclusão desta reportagem, dados do parecer já vinham circulando entre médicos e pacientes – o que fez com que parte dos portadores abandonasse a terapia emergencial, mesmo com os sintomas.

Em nota oficial, o Ministério da Saúde reafirmou a segurança do remédio e destacou que o parecer não é a posição oficial da secretaria de São Paulo. A pasta estadual informou apenas que recomenda que os doentes revejam a prescrição com os seus médicos.

A discussão envolve um mercado de pelo menos R$ 52 milhões, custo da última compra emergencial, e drogas de pelo menos três multinacionais do setor farmacêutico - Pfizer, distribuidora da taliglucerase, Genzyme, fabricante da imiglucerase, que registrou o desabastecimento, e a droga miglustate, da Actelion, recomendada pelo grupo de especialistas para adultos com indicação.

Efeitos

O parecer do grupo da Secretaria Estadual de Saúde, enviado ao ministério no início de outubro, é assinado pelas médicas Ana Maria Martins, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Gilda Porta, da USP (Universidade de São Paulo), Jordana Fuzato, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e Teresa Cristina Bortolheiro, da Faculdade de Medicina da Santa Casa.

O texto acusa o ministério de ferir princípios éticos das pesquisas com seres humanos e destaca que não há nenhum estudo publicado sobre a droga, fato que a fabricante Pfizer confirma. Também recomenda que se volte a comprar a droga da Genzyme para crianças, grávidas e aqueles que se recusarem a receber a taliglucerase, além de sugerir a compra da miglustate.

Resposta

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que o parecer do comitê assessor paulista “não representa o posicionamento oficial da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo”. A pasta estadual, porém, afirmou em esclarecimento que a decisão sobre o remédio para Gaucher cabe ao ministério, mas que recomenda aos pacientes reverem a prescrição com seus médicos.

Nas últimas semanas, os dois órgãos vêm se desentendo sobre o abastecimento de remédios e a segurança de fármacos do SUS.

Segundo destacou o ministério, a aquisição de taliglucerase foi “efetivada com a Pfizer porque o laboratório foi o único no mundo que garantiu (...) ser capaz de produzir o quantitativo necessário do medicamento”. A nota enfatiza que a compra “só ocorreu depois que a eficácia e a segurança (...) foram comprovadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária”. O ministério garante que todos os pacientes respondem bem à terapia, orientada em um guia. A pasta defendeu ainda que o miglustate é indicado só para pacientes refratários.

A Pfizer disse desconhecer os questionamentos do comitê e destacou que pacientes usam o remédio em testes “com bons resultados”.

Do R7

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