“Cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.”
TRÊS jovens hebreus que moravam em Babilônia enfrentaram uma decisão de vida ou morte. Deveriam eles curvar-se diante de uma enorme imagem, como era exigido pela lei do país? Ou deveriam recusar-se a adorá-la e ser lançados numa fornalha ardente? Sadraque, Mesaque e Abednego não tiveram tempo para consultar alguém nem precisavam fazer isso. Sem hesitação, declararam: “Seja do teu conhecimento, ó rei, que não é a teus deuses que serviremos e que não é a tua imagem de ouro que erigiste que adoraremos.” (Daniel 3:1-18) Os três hebreus assumiram sua carga de responsabilidade.
Cerca de seis séculos depois disso, um governador ouviu as acusações feitas contra um homem. Ao examinar o caso, ele se convenceu de que o acusado era inocente. A multidão, porém, exigiu sua execução. Depois de mostrar certa resistência ao pedido, o governador se negou a assumir sua responsabilidade e cedeu à pressão. Ao lavar as mãos, ele declarou: “Eu sou inocente do sangue deste homem.” A seguir ele o entregou para ser pregado numa estaca. De fato, em vez de assumir a responsabilidade de decidir o que fazer no caso de Jesus Cristo, Pôncio Pilatos deixou que outros decidissem por ele. Por mais que lavasse as mãos, não teve como ficar isento da responsabilidade de sentenciar Jesus injustamente. — Mateus 27:11-26; Lucas 23:13-25.
E no seu caso? Quando precisa tomar decisões, age como os três hebreus, ou deixa que outros decidam por você? Tomar decisões não é fácil. Fazer boas escolhas requer madureza. Por exemplo, os pais precisam tomar boas decisões para seus filhos menores. É claro que, quando uma situação é complicada e vários fatores precisam ser levados em consideração, tomar uma decisão é muito difícil. No entanto, a responsabilidade de tomar decisões não é tão pesada a ponto de ser incluída entre os “fardos” ou “coisas penosas” que os que têm “qualificações espirituais” talvez carreguem para nós. (Gálatas 6:1, 2; nota) Em vez disso, é uma responsabilidade pela qual “cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus”. (Romanos 14:12) “Cada um levará a sua própria carga”, diz a Bíblia. (Gálatas 6:5) Então, como podemos tomar boas decisões na vida? Em primeiro lugar, temos de reconhecer nossas limitações humanas e procurar saber o que é preciso para compensá-las.
Um requisito essencial
Logo no início da história humana, o primeiro casal tomou uma decisão que trouxe conseqüências desastrosas. Eles decidiram comer do fruto da árvore do conhecimento do que é bom e do que é mau. (Gênesis 2:16, 17) Por que tomaram essa decisão? A Bíblia diz: “A mulher viu que a árvore era boa para alimento e que era algo para os olhos anelarem, sim, a árvore era desejável para se contemplar. De modo que começou a tomar do seu fruto e a comê-lo. Depois deu também dele a seu esposo, quando estava com ela, e ele começou a comê-lo.” (Gênesis 3:6) A escolha de Eva baseava-se em desejo egoísta, e o que ela fez levou Adão a agir da mesma maneira. Em resultado disso, o pecado e a morte ‘se espalharam a todos os homens’. (Romanos 5:12) A desobediência de Adão e Eva nos ensina uma lição importante a respeito das limitações humanas: a menos que se apegue às orientações de Deus, a humanidade tem a tendência de tomar decisões erradas.
Alegra-nos muito saber que Jeová Deus não nos deixou sem orientação. As Escrituras nos dizem: “Teus próprios ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: ‘Este é o caminho. Andai nele’, caso vades para a direita ou caso vades para a esquerda.” (Isaías 30:21) Jeová se comunica conosco por meio da sua Palavra inspirada, a Bíblia. Precisamos estudá-la e adquirir conhecimento exato dela. Para tomarmos boas decisões, devemos nos nutrir do ‘alimento sólido, que é para as pessoas maduras’. Também ‘teremos, pelo uso, nossas faculdades perceptivas treinadas para distinguir tanto o certo como o errado’. (Hebreus 5:14) Podemos treinar nossas faculdades perceptivas por aplicar o que aprendemos da Palavra de Deus.
Algo indispensável na questão de tomar decisões é a faculdade da consciência, uma faculdade herdada que envolve a habilidade de julgar. Nossa consciência pode nos ‘acusar ou até mesmo nos desculpar’. (Romanos 2:14, 15) No entanto, para que aja da maneira correta, a consciência precisa ser influenciada pelo conhecimento exato da Palavra de Deus e reagir ao passo que aplicamos o que aprendemos. Uma consciência não treinada é facilmente influenciada por costumes e hábitos locais. Nosso ambiente e as opiniões de outras pessoas também podem nos desencaminhar. O que acontece com nossa consciência quando seus avisos são ignorados repetidas vezes e os padrões divinos violados? Com o tempo ela pode ficar cauterizada “como que por um ferro de marcar”, tornando-se como uma pele cicatrizada — insensível e sem reação. (1 Timóteo 4:2) Por outro lado, uma consciência treinada pela Palavra de Deus é um guia seguro.
Sendo assim, um requisito essencial para se assumir a responsabilidade de tomar boas decisões é o conhecimento exato das Escrituras e a capacidade de pôr em prática o que se aprende. Em vez de impulsivamente tomarmos decisões precipitadas ao nos confrontarmos com escolhas, devemos tirar tempo para procurar princípios bíblicos e usar nossa capacidade de raciocínio para aplicá-los. Mesmo que precisemos tomar uma decisão rápida — assim como Sadraque, Mesaque e Abednego —, estaremos bem preparados se tivermos o conhecimento exato da Palavra de Deus e se a nossa consciência tiver sido treinada por ela. Alcançar a madureza pode melhorar a nossa capacidade de tomar decisões. Veremos isso por analisar dois campos da vida.
Quem escolheremos por companhia?
“Não sejais desencaminhados”, escreveu o apóstolo Paulo. “Más associações estragam hábitos úteis.” (1 Coríntios 15:33) Jesus Cristo disse aos seus discípulos: “Não fazeis parte do mundo.” (João 15:19) Ao aprendermos esses princípios, vemos prontamente a necessidade de evitar a companhia de fornicadores, adúlteros, ladrões, beberrões e pessoas que fazem coisas semelhantes a essas. (1 Coríntios 6:9, 10) Ao passo que adquirimos cada vez mais conhecimento da verdade bíblica, porém, reconhecemos que também é prejudicial gastar tempo com tais pessoas por vê-las nos filmes, na televisão, nas telas de computador ou por ler sobre elas em livros. Pode-se dizer o mesmo da companhia de pessoas “que ocultam o que são” nas salas de bate-papo da internet. — Salmo 26:4.
O que dizer da companhia achegada com os que talvez sejam moralmente puros, mas que não têm fé no Deus verdadeiro? As Escrituras nos dizem: “O mundo inteiro jaz no poder do iníquo.” (1 João 5:19) Entendemos que as más companhias não se limitam a pessoas que são permissivas ou moralmente corrompidas. Por essa razão, é prudente cultivar amizades apenas com quem ama a Jeová.
Evitar completamente o contato com pessoas do mundo não é possível nem é uma exigência. (João 17:15) Participar no ministério cristão, ir à escola, trabalhar, tudo isso envolve contato com o mundo. Uma Testemunha de Jeová casada com alguém que não é da mesma religião talvez tenha mais contato com o mundo do que outras. Mas, por termos nossa faculdade perceptiva treinada, entendemos que ter contato limitado e necessário com o mundo é uma coisa, estar achegado a ele é outra. (Tiago 4:4) Desse modo, seremos capazes de tomar decisões maduras sobre participar em atividades extracurriculares na escola, tais como eventos esportivos e danças, e ir a festas ou jantares programados para colegas de trabalho.
Escolha de emprego
Aplicar princípios bíblicos de uma forma madura nos ajuda a tomar decisões sobre como cumprir nossa obrigação de ‘fazer provisões para os membros de nossa família’. (1 Timóteo 5:8) Em primeiro lugar devemos considerar a natureza do serviço — o que se requer que façamos. A escolha de um trabalho que envolve algo diretamente condenado pela Bíblia é definitivamente errada. Assim, os cristãos verdadeiros não aceitam serviços que talvez envolvam a idolatria, o roubo, o mau uso do sangue ou outras práticas antibíblicas. Também não devemos mentir nem enganar outros, mesmo que um empregador exija que o façamos. — Atos 15:29; Revelação (Apocalipse) 21:8.
E quando o trabalho em si não viola especificamente nenhum requisito divino? Ao passo que assimilamos mais conhecimento da verdade e aprimoramos nossa faculdade perceptiva, conseguimos discernir outros fatores que precisam ser considerados. E se o emprego faz o cristão envolver-se numa prática antibíblica, tal como atender ao telefone num estabelecimento de jogatina? A fonte da remuneração e o local do emprego também são fatores a levar em conta. Por exemplo, se um cristão trabalhasse como empreiteiro, será que aceitaria um serviço que envolvesse pintar uma igreja da cristandade e, por meio disso, contribuir para promover a religião falsa? — 2 Coríntios 6:14-16.
E se em determinada ocasião nosso empregador aceitar um contrato para pintar um local de adoração falsa? Nesse caso, precisaríamos levar em conta fatores tais como o que estaria sob a nossa supervisão naquele serviço e até que ponto estaríamos envolvidos. E o que dizer de um serviço que não seja contrário aos princípios bíblicos, tal como o de carteiro, que entrega cartas em toda a comunidade, inclusive em lugares que promovem práticas erradas? O princípio encontrado em Mateus 5:45 poderá servir de base. Algo que não devemos desconsiderar é como nossa consciência pode ficar afetada por fazermos determinado trabalho dia após dia. (Hebreus 13:18) De fato, assumir a nossa responsabilidade de tomar decisões maduras sobre emprego requer que desenvolvamos nossa faculdade perceptiva e treinemos nossa consciência dada por Deus.
“Nota-o em todos os teus caminhos”
O que dizer das decisões que tomamos sobre outros assuntos, tais como educação secular e aceitar ou rejeitar certos tratamentos médicos? Quando nos confrontamos com uma decisão, precisamos verificar os princípios bíblicos que se aplicam ao caso e daí usar nossa capacidade de raciocínio para aplicá-los. O sábio Rei Salomão do Israel antigo disse: “Confia em Jeová de todo o teu coração e não te estribes na tua própria compreensão. Nota-o em todos os teus caminhos, e ele mesmo endireitará as tuas veredas.” — Provérbios 3:5, 6.
Muitas vezes, as escolhas que fazemos afetam outros, e precisamos levar isso em conta. Os cristãos do primeiro século, por exemplo, não estavam mais sob muitas das restrições alimentares da Lei mosaica. Eles podiam decidir comer certos alimentos que eram considerados impuros sob a Lei e que de outros modos não eram objetáveis. No entanto, o apóstolo Paulo escreveu sobre a carne de um animal que talvez tivesse alguma ligação com o templo de um ídolo: “Se o alimento fizer o meu irmão tropeçar, nunca mais comerei carne alguma, para que eu não faça meu irmão tropeçar.” (1 Coríntios 8:11-13) Os primeiros cristãos foram incentivados a mostrar consideração pela consciência de outros para que não os fizessem tropeçar. As nossas decisões não devem nos tornar ‘causas de tropeço’. — 1 Coríntios 10:29, 32.
Busque a sabedoria divina
Uma grande ajuda ao tomarmos decisões é a oração. “Se alguém de vós tiver falta de sabedoria”, diz o discípulo Tiago, “persista ele em pedi-la a Deus, pois ele dá generosamente a todos, e sem censurar; e ser-lhe-á dada”. (Tiago 1:5) Podemos nos dirigir a Jeová em oração com confiança e pedir a sabedoria necessária para tomar as decisões certas. Ao falarmos com o Deus verdadeiro sobre nossas preocupações e buscarmos sua orientação, o espírito santo poderá nos ajudar a ter um entendimento melhor dos textos bíblicos que estamos analisando e nos fazer lembrar daqueles que talvez tenhamos despercebido.
Será que outros podem nos ajudar ao tomarmos decisões? Sim. Jeová provê irmãos maduros na congregação. (Efésios 4:11, 12) Eles podem ser consultados, especialmente se a decisão for muito importante. Pessoas que têm profundo discernimento espiritual e experiência na vida podem nos ajudar. Talvez tragam à nossa atenção princípios bíblicos adicionais que poderão orientar a nossa decisão e ajudar-nos a nos ‘certificar das coisas mais importantes’. (Filipenses 1:9, 10) No entanto, aqui cabe uma palavra de cautela: precisamos ter cuidado para não deixar que outros tomem decisões por nós. Essa responsabilidade é nossa.
O resultado sempre será bom?
Será que decisões baseadas em princípios bíblicos e tomadas conscienciosamente sempre trazem bons resultados? A longo prazo sim. Às vezes, porém, o efeito a curto prazo pode ser desfavorável. Sadraque, Mesaque e Abednego sabiam que o resultado da decisão de não adorar a enorme imagem poderia ser a morte. (Daniel 3:16-19) Da mesma forma, depois que os apóstolos disseram ao Sinédrio judaico que teriam de obedecer a Deus como governante em vez de a homens, eles foram chibateados antes de serem soltos. (Atos 5:27-29, 40) Além disso, “o tempo e o imprevisto” podem afetar adversamente o resultado de qualquer decisão. (Eclesiastes 9:11) Se de alguma forma
passarmos por problemas apesar de termos tomado uma decisão certa, podemos ter confiança de que Jeová nos ajudará a perseverar e nos abençoará no futuro. — 2 Coríntios 4:7.
Portanto, ao tomarmos decisões, precisamos procurar princípios bíblicos e usar nossa capacidade de raciocínio para aplicá-los. Devemos ser muito gratos pela ajuda que Jeová tem fornecido por meio de seu espírito santo e de pessoas maduras na congregação. Por meio de tal orientação e ajuda, assumiremos corajosamente nossa responsabilidade de tomar boas decisões.
Revista A Sentinela de 15 de março de 2006 pp. 21-25, publicada pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e tratados.
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