sexta-feira, 3 de julho de 2009

Quão absoluto como guia é o conhecimento?




É NECESSÁRIO conhecimento para alguém tomar decisões sábias na vida. A falta de conhecimento, por outro lado, pode resultar em perdermos tempo, energias e recursos. Isto é um fato até mesmo em conexão com tarefas simples. Por exemplo, o sábio Rei Salomão observou: “Se uma ferramenta ficou embotada e alguém não lhe amolou o fio, então terá de usar as suas próprias energias vitais. De modo que usar de sabedoria [à base do conhecimento] para bom êxito significa uma vantagem.” — Ecl. 10:10.

Contudo, em si mesmo, o conhecimento sobre certos assuntos talvez não forneça uma orientação segura. Precisa-se de algo mais. Este é o caso especialmente com respeito às relações com os semelhantes. Simplesmente agirmos em harmonia com o que sabemos pessoalmente ser o certo pode conduzir a sérios problemas.

O apóstolo cristão Paulo tornou isto claro em sua carta aos coríntios. Quando abordou a questão de “alimentos oferecidos a ídolos”, ele escreveu: “Sabemos que todos nós temos conhecimento. O conhecimento enfuna, mas o amor edifica. Se alguém pensa que tem adquirido conhecimento de algo, ele ainda não o sabe como devia saber.” — 1 Cor. 8:1, 2.

Os cristãos em Corinto sabiam que havia apenas um só Deus, Jeová, e um só Senhor, Jesus Cristo. Sabiam que os muitos deuses e senhores venerados pelas nações eram realmente inexistentes. Os ídolos eram meramente objetos de madeira, pedra ou metal que não tinham poder. Baseados em tal conhecimento, certos membros da congregação coríntia podem ter concluído que não haveria mal algum em comer alimentos que anteriormente haviam sido oferecidos a ídolos. Tais crentes estavam certos ao concluírem que este alimento não era diferente de nenhum outro. Os ídolos sem vida e sem poder de modo algum haviam efetuado uma mudança nele, nem podiam tomar posse dele.

Mas, era este conhecimento especial a respeito da inutilidade dos ídolos um guia seguro para se determinar se era correto comer alimentos oferecidos a ídolos? Não. Por que não? O apóstolo explicou: “Nem em todos há tal conhecimento; mas alguns, acostumados até agora com o ídolo, comem o alimento como algo sacrificado a um ídolo, e a consciência deles, sendo fraca, fica poluída.” — 1 Cor. 8:7.

Em razão de no passado terem sido idólatras, alguns dos crentes em Corinto não haviam progredido ao ponto de superarem os sentimentos religiosos que costumavam acompanhar a ingestão de alimentos oferecidos a ídolos. Sendo assim, sentiam que era errado fazerem isto, e neste caso seria. Sua consciência fraca não lhes permitia considerar o alimento oferecido a ídolos como qualquer outro. A Bíblia declara: “Se tiver dúvidas, já está condenado, se comer, porque não come em fé. Deveras, tudo o que não vem da fé é pecado.” — Rom. 14:23.

Se tais crentes vissem outro cristão comendo alimentos oferecidos a ídolos, ficariam muitíssimo perturbados. Talvez concluíssem que este cristão realmente estivesse adorando um ídolo. Isso poderia fazer com que tropeçassem, ofendendo-se com o que acreditariam ser uma séria transgressão da parte de um de seus irmãos. Ou talvez se afoitassem a comer alimentos oferecidos a ídolos e fossem enlaçados a se entregarem a uma atitude de veneração que tinham enquanto ainda eram adoradores de ídolos.

De modo que o cristão que simplesmente agisse em harmonia com o que ele conhecia como sendo certo sobre os ídolos e alimentos oferecidos a ídolos seria responsável por provocar a ruína espiritual de seu irmão. Enfatizando este ponto, o apóstolo Paulo escreveu: “Sede vigilantes, porém, para que esta autoridade vossa não se torne de algum modo uma pedra de tropeço para os que são fracos. Pois, se alguém vir a ti, que tens conhecimento, recostando numa refeição num templo de ídolo, não se edificará a consciência daquele que é fraco ao ponto de comer alimentos oferecidos a ídolos? Realmente, pelo teu conhecimento está sendo arruinado aquele que é fraco, teu irmão pelo qual Cristo morreu.” — 1 Cor. 8:9-11.

A pessoa que deixa de levar em consideração a consciência fraca dos outros está realmente enfunada com seu conhecimento. Tende a menosprezar os outros como sendo altamente escrupulosos e, não obstante, falha em reconhecer que, para os de consciência fraca, certo proceder pode ser espiritualmente prejudicial. Assim, seu mero conhecimento não se mostra um guia seguro, já que ignora os efeitos nocivos que seu proceder pode ter sobre os outros. Apenas quando o amor dirige a aplicação do conhecimento é que o conhecimento se torna um guia absoluto. Quando falta amor, o que possui conhecimento gera nos outros sentimentos de inferioridade e vergonha. Os que se associam com ele não serão encorajados. No entanto, todas as vezes que o amor impele a pessoa para usar seu conhecimento em promover o bem-estar dos outros, os assim ajudados são edificados.

Quando alguém meramente pensa que sabe algo, refletindo uma atitude de superioridade para com os outros, ele realmente não conhece o assunto como deveria. (1 Cor. 8:2) Perdeu de vista o objetivo básico do conhecimento salutar, a saber, ser usado para promover o bem-estar e a felicidade dos outros. Além disso, quanto mais ele sabe, tanto mais pode vir a perceber que há muito que ele não sabe. Isto pode torná-lo mais apercebido de suas limitações e menos inclinado a ser dogmático e desarrazoado em seus conceitos.

Para servir a um bom propósito, o conhecimento tem de ser encarado em conexão com o amor a Deus. O apóstolo Paulo escreveu: “Se alguém ama a Deus, este é conhecido por ele.” (1 Cor. 8:3) A evidência inconfundível de alguém ter amor a Deus tem de ser vista em suas atitudes e ações para com seus semelhantes. O apóstolo João expressou este pensamento do seguinte modo: “Todo aquele que odeia seu irmão é homicida, e vós sabeis que nenhum homicida tem permaneceste nele a vida eterna. Por meio disso chegamos a conhecer o amor, porque esse entregou a sua alma por nós; e nós temos a obrigação de entregar as nossas almas pelos nossos irmãos.” (1 João 3:15, 16) “Continuemos a amar-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus, e todo aquele que ama tem nascido de Deus e obtém o conhecimento de Deus. Quem não amar, não chegou a conhecer a Deus, porque Deus é amor.” — 1 João 4:7, 8.

Assim sendo, o conhecimento, em si mesmo, não é um guia absoluto para determinar o que é apropriado em dada situação. Certo proceder pode ser certo para nós. Não obstante, se reconhecermos que este proceder pode prejudicar a consciência fraca dos que nos observam, certamente desejaremos refrear-nos de insistir em segui-lo. Que nós, portanto, continuemos a ‘buscar, não a nossa própria vantagem, mas a dos outros’, deste modo usando nosso conhecimento para edificar os outros. — 1 Cor. 10:24.

Fonte: Revista Despertai 22 de março de 1980 pp.29-30.

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