Diagnóstico Precoce
. Em estudo publicado ontem na revista “Archives of Internal Medicine”, uma equipe da Universidade Dartmouth apresenta cálculos apontando que, das mulheres cujos tumores foram detectados por mamografias (sem que elas tivessem qualquer sintoma prévio), só 10% tiveram sua vida salva pelo exame.
O trabalho foi liderado pelo clínico H. Gilbert Welch, autor do livro “Overdiagnosed” (“Superdiagnosticado”, sem edição no Brasil). Segundo os autores, o uso de histórias de sobreviventes de câncer para estimular a realização de exames, como se vê nas campanhas como a “Outubro Rosa”, que promove a detecção precoce no mundo todo, induz a uma concepção errada sobre o teste e esconde seus riscos.
“A maioria das mulheres com câncer detectado por mamografia de rastreamento não foi salva pelo exame. Elas foram ou diagnosticadas mais cedo sem consequência para seu risco de morte ou sobrediagnosticadas”, afirma o artigo científico.
DEBATE
O trabalho dá nova força à polêmica já colocada em pesquisas recentes. Em setembro, um estudo no “British Medical Journal” mostrou que os exames periódicos de mamografia aumentam o risco de as mulheres serem submetidas à retirada total da mama, a mastectomia. Isso apesar de as campanhas de prevenção afirmarem que a detecção precoce reduz a necessidade desse tipo de operação.
As últimas recomendações da Força-Tarefa de Serviços de Prevenção nos Estados Unidos destacam os falsos-positivos e o sobrediagnóstico como problemas graves do rastreamento.
MÉTODO COMPROVADO
De acordo com a radiologista Flora Finguerman, é preciso ter cuidado com esses resultados. “O rastreamento é um método comprovado de redução de mortalidade por câncer de mama. A taxa pode chegar a 30% dependendo da faixa etária.”
Finguerman afirma que existem métodos para reduzir o risco de falsos-positivos nos programas de rastreamento de câncer de mama. “Nos bons serviços de rastreamento, só 4% das mulheres são convocadas a retornar para fazer novos exames.”
Países como a Inglaterra e os EUA controlam os dados dos exames para monitorar possíveis excessos de diagnóstico. O problema, diz a radiologista, é que no Brasil não há um controle desse tipo. “Hoje, são feitas muitas biópsias desnecessárias, há muitas mulheres convocadas a fazer novos exames. Isso gera mais gastos e aumenta o estresse das pacientes.”
Para os autores da nova pesquisa, esse tipo de informação não é veiculado de forma clara para as mulheres nas campanhas de câncer. “O público fica com a impressão de que toda sobrevivente foi salva pelo exame de rastreamento”, escreve Welch. Ele afirma que os exames clínicos e a melhora dos tratamentos aumentaram o número de sobreviventes de câncer na população.
“Mas o sobrediagnóstico também cria um número maior de sobreviventes, que gera publicidade para aumentar os exames preventivos e realimentar a população dos que superaram a doença, em um círculo vicioso.”
São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2011
Fonte: Folha de São Paulo – Saúde
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