sábado, 6 de junho de 2009

Cirurgiões adotam técnica inédita para operar o crânio de bebê

Revista Época -abrindo a cabeça
cirurgiões adotam técnica inédita para operar o crânio de bebê

O fundamentalismo religioso, quem diria, impulsionou o progresso da Ciência. Uma equipe da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) adotou uma técnica inédita no Brasil para tratar uma malformação rara no crânio de uma criança. Seus pais, testemunhas de Jeová, não permitiam que o filho fosse tratado pela técnica cirúrgica convencional (bastante eficaz e segura) porque a religião não admite transfusões de sangue. O menino, Pedro Henrique das Mercês, nasceu com craniostenose. A doença causa o fechamento precoce de uma ou mais suturas do crânio. Essas fendas no osso permitem a expansão uniforme do cérebro na fase de crescimento do bebê e só se fecham completamente aos 16 anos. As vítimas da craniostenose acabam tendo deformações na cabeça, que podem levar até a retardo mental.

“Os médicos diziam que, sem receber sangue, meu filho estava condenado à morte”

WALTER DAS MERCÊS,
pai de Pedro Henrique

Ainda na maternidade o pediatra percebeu que algo poderia estar errado com Pedro. A cabeça do menino era achatada, a testa e a nuca proeminentes. Uma radiografia revelou a doença. Quanto mais nova a criança, menor a deformação da cabeça e mais eficiente o resultado da cirurgia. Mas o choque entre a solução apontada pela Ciência e a crença dos pais do menino criou um dilema. “Conversei com mais de 12 médicos e eles eram categóricos em dizer que, sem sangue, meu filho morreria na mesa de cirurgia”, conta Walter Pereira das Mercês. “Mas eu preferia que meu filho morresse a receber sangue de outra pessoa”, diz.

Diante do impasse, o neurocirurgião pediátrico Sérgio Cavalheiro decidiu usar um endoscópio, aparelho cilíndrico que contém uma câmera de vídeo e permite manusear instrumentos cirúrgicos sem abrir toda a calota craniana durante a cirurgia (leia o quadro abaixo). Bastou fazer um corte de 6,5 centímetros no couro cabeludo da criança e introduzir o endoscópio entre a pele e o crânio. Com a técnica menos invasiva, Pedro não precisou receber sangue. Também não foi necessário aplicar um dreno na cabeça. O bebê ficou apenas um dia na UTI do Hospital Santa Catarina, em São Paulo. O método convencional exige em média três dias. Dois meses após a operação Pedro é uma criança saudável. “A técnica cirúrgica convencional continua boa. Mas deverá gradualmente ser substituída pela operação com o endoscópio”, diz Cavalheiro.


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