sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Nanoera"


"Nanoera" vai mudar paradigmas em várias áreas do conhecimento

Para quem pensa que o futuro já chegou, porque é possível construir robôs do tamanho de uma molécula, os especialistas afirmam: as descobertas mais importantes da nanotecnologia estão por vir.

“Ainda estamos muito longe de entender como, a partir de uma molécula de DNA e um conjunto de nutrientes, produz-se um organismo vivo, afirma Cylon Gonçalves, ex-secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje diretor de tecnologia do Instituto Genius”. "A auto-organização é a forma pela qual a "nanotecnologia natural" funciona. Se a entendermos melhor, poderemos um dia adaptar algumas de suas estratégias à nanotecnologia "industrial'", diz.

As aplicações da "nanociência" estão beneficiando praticamente todas as áreas do conhecimento, portanto, as nanotecnologias são um novo paradigma a ser absorvido por inúmeros profissionais. Atualmente, porém, o âmbito dessa ciência é muito mais acadêmico, restrito à pesquisa dentro das universidades brasileiras.

"Em nosso país, a maioria dos profissionais que atuam em nanotecnologia encontra-se na universidade, mais especificamente, na pós-graduação (mestrado e doutorado)", afirma o professor Oswaldo Luiz Alves, coordenador científico do LQES (Laboratório de Química do Estado Sólido da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas) e consultor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Núcleo de Estudos Estratégicos do governo federal. Os estudantes provêm, em sua maior parte, das áreas de química, física, biologia e engenharia.

Nem tudo que é nanométrico (1 bilionésimo do metro), porém, é necessariamente nanotecnológico. Entre os cientistas, já começa a ser consenso que só pode ser chamado de nanotecnológico aquilo que tem propriedades especiais em virtude do tamanho reduzido.

Um exemplo: hoje é possível mudar a cor de uma substância pela variação do tamanho de suas partículas, o que os cientistas chamam de efeito quântico de tamanho. "O ouro, em escala nanométrica, fica vermelho. Mas o objetivo de trabalhar com ele não é mudar sua cor, e sim, explorar suas propriedades, como a condução de eletricidade", explica o professor Ítalo Odone Mazali, 32, do Instituto de Química da Unicamp e do LQES. O estudo do metal é muito utilizado na medicina.

Graduado em química, ele fez mestrado e doutorado na mesma área, uma das mais importantes da nanociência. "São os conhecimentos da química que possibilitam a obtenção das partículas."

A grande contribuição da Unicamp está em polímeros, fibras ópticas, materiais semincondutores e materiais com propriedades magnéticas ou a base de carbono.
"Com os investimentos planejados para os próximos anos, espera-se avanço em setores como materiais, catalisadores para a indústria química, cosméticos, sensores e, dependendo dos processos regulatórios, nos medicamentos", afirma Gonçalves.

Apesar de não ter sido citada, a agricultura também já chegou à "nanoera". E a língua eletrônica é a prova disso. O equipamento, idealizado a partir de nanosensores, tem sensibilidade dez vezes maior que o paladar humano para identificar inúmeros gostos.

O aparelho permite, com rapidez, precisão e a um custo baixo, verificar a qualidade da água e a eventual presença de pesticidas e substâncias como metais pesados. A língua eletrônica diferencia sem dificuldade os padrões básicos de paladar (doce, salgado, azedo e amargo) em concentrações abaixo do limite de detecção do ser humano. O sistema também é capaz de diferenciar bebidas com gostos semelhantes (vários tipos de vinho, por exemplo).

A engenhoca, criação da Embrapa Instrumentação Agropecuária, avalia e classifica vários produtos segundo o seu paladar, qualidade, regiões e possíveis produtores.

O engenheiro de materiais Luiz Henrique Capparelli Mattoso, 43, pesquisador responsável pelo desenvolvimento do equipamento, investiu dois anos no mestrado e outros quatro no doutorado.

Ele conta que precisou se aprofundar no estudo das "ciências de superfície" e no conhecimento da utilização do microscópio de força atômica (cuja resolução chega ao tamanho do átomo).

"Os profissionais que querem trabalhar nessa área precisam se especializar em técnicas mais aprimoradas para o estudo da matéria em nível nanométrico", diz. "Mandamos um pesquisador à IBM para aprender a trabalhar com essa técnica", afirma.

Para ele, antes das nanociências, os pesquisadores se limitavam a observar os materiais como quem vê a Lua a olho nu. Hoje, eles já podem saber a composição da superfície e até enviar um "braço mecânico" para colher uma amostra. É que os equipamentos utilizados pelos "nanocientistas" possuem uma espécie de sonda, semelhante a uma agulha, que consegue tocar e manipular o átomo, em vez de apenas observá-lo.

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